NEQ Solidário é o nome do projeto de voluntariado criado pelo NEQIST e que visa a criação de um grupo de voluntários do Curso de Engenharia Química.
O departamento solidário do NEQ surgiu com o principal objetivo de fazer a ligação entre a comunidade estudantil e as instituições de solidariedade de modo a resultar numa sinergia benéfica para ambos, nos mais variados âmbitos. Acreditamos que é um dever cívico ajudar aqueles que mais necessitam, e por essa razão, decidimos ter um papel na consciencialização dos estudantes de que também estes têm um papel na construção de um Mundo mais justo e equitativo!
Uma das melhores experiências a nível de voluntariado que tive até agora foi no Just a Change. Tive conhecimento da existência deste projeto através de uma partilha na página do MEQ SOLIDÁRIO, onde informava que estavam abertas as inscrições para os campos de verão do Just. Sem saber que tipo de projeto era, tentei informar-me um pouco, falei com algumas pessoas que já tinham feito e todos recomendaram imenso. O Just a Change tem como missão reabilitar casas e com isso criar mudanças fundamentais nas vidas de quem lá mora, assim, o lema do Just é: “Reabilitamos Casas, Reconstruímos Vidas.”.Através deste projeto percebemos que ainda existem muitas pessoas a viver em situações de pobreza habitacional, situações essas que a muitos de nós não nos passa pela cabeça, como por exemplo viver sem casa de banho ou sem a possibilidade de ter aquecimento no inverno. Estas situações são sinalizadas pelos municípios ou pelas fundações e o Just intervém. Existem vários programas ao longo do ano e em diversos sítios do país, sendo que eu já fiz dois, um campo de verão e os semestres. Comecei no verão de 2018 onde fiz o campo de Sever do Vouga. Estava um pouco receosa de ir 12 dias para um campo sem conhecer ninguém, mas ao mesmo tempo queria fazer algo de diferente nesse verão, então convenci um amigo a inscrever-se também e fomos os dois. Os campos têm à volta de 40 pessoas, e somos divididos por equipas. Cada equipa é composta por cerca de 5 voluntários e um coordenador, contamos sempre com a presença de um mestre de obras, alguém que percebe realmente do que estamos afazer e que nos vai ensinando e dando indicações. A minha equipa ficou “encarregue” da casa da Sra. Isabel e do Sr. João, um casal de idosos que vivia numa casa muito antiga, ainda com paredes de pedra muito tortas, imensas infiltrações e um teto de madeira já podre. Tinham apenas duas divisões, uma cozinha e um quarto e sim, não tinham casa de banho… O nosso trabalho passou por revestir toda a casa com pladur, fazer uma casa de banho, revestir todo o chão com tijoleira, entre outras coisas. Ao longo desses dias trabalhámos o melhor que conseguimos para dar uma casa àquelas pessoas e a relação que vamos construindo com os beneficiários é o melhor que podemos receber em troca. No caso dos beneficiários da minha equipa, estes estavam um pouco receosos em nos receber no início, mas no final da semana já se emocionavam só de verem como estava a ficar a sua casa e que estavam finalmente a ter uma habitação que mereciam. Para além do sentimento de que fizemos a diferença na vida de alguém, o Just também nos dá amigos. Pessoas espetaculares com quem passamos os melhores momentos daqueles dias, uma vez que o nosso horário de trabalho era mais ou menos das 9h às 17h, o resto do tempo era passado com os outros voluntários, desde idas ao rio a cantorias pela noite fora. Posso então dizer que os campos de verão do Just são qualquer coisa de outro mundo e tenciono repetir este verão!
Quando começou o novo semestre senti saudades dos dias de trolha,de chapar parede, de pintar, etc… Então decidi inscrever-me no semestre do Just. O semestre ocupa apenas uma tarde ou uma manhã de quinze em quinze dias, consoante o dia em que tivermos disponibilidade. Essas poucas horas acabaram por se tornar as melhores horas da semana, nas quais podia espairecer um bocadinho e o que a nós ocupava pouco tempo, na vida de alguém teve imenso impacto. É completamente diferente fazer campo ou semestre, enquanto que no campo vemos todo o desenvolvimento da nossa obra, somos nós que começamos e acabamos e somos sempre os mesmos voluntários com quem os beneficiários vão falando, no semestre, numa semana vemos a casa e passado quinze dias já está completamente diferente. No entanto, ambas as experiências são muito gratificantes. A forma como uma simples conversa com um beneficiário nos enche o coração é algo inexplicável e, por isso, agradeço ao Just por me ter dado a oportunidade de ver o mundo com outros olhos. Por fim, posso apenas recomendar que estejam atentos à página do MEQ SOLIDÁRIO, porque a qualquer momento pode aparecer um projeto que vos faça querer fazer algo de diferente enquanto ajudam o próximo! E acreditem que ser voluntário é receber muito mais do que o que dão!
JOANA DIAS, 19
“A minha experiência de voluntariado não está associada a nenhuma organização especifica. Tudo teve início no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto. Para vos explicar tenho que recuar até ao ano de 2006.
Nesse ano o meu primo fez parte de um grupo de voluntários que seguiu em missão para Moçambique, com o mesmo colégio. Foi nesse momento que entendi que também eu gostava de fazer parte de uma experiência como aquela. Comecei a fazer parte de todos os projetos que podia tendo esse objetivo final. Esta aventura que tanto ambicionava é apenas para alunos do 12º ou ex-alunos e eu ainda estava no 5º ano.
Durante os 9 anos em que frequentei o colégio e mais dois quando já estava aqui na faculdade em Lisboa, participei em quase todos os projetos que o colégio propunha.
Com os meus 9 anos, comecei a ajudar na preparação dos kits, que os alunos a partir do 10º ano, distribuíam à noite aos sem-abrigo pelo Porto (leite achocolatado, café, pão com queijo ou fiambre, iogurtes e ainda roupa e produtos de higiene). Foi assim que até ao meu 10º ano ajudei na preparação dos kits e a partir do qual comecei a participar também na distribuição.
Entre o 7º e o 9º ano, fiz ainda parte de um grupo de alunos que ia, uma vez por semana, ao lar de idosos do Pinheiro Manso, perto do colégio. Ajudávamos na distribuição dos jantares, mas sobretudo conversávamos com estas pessoas que muitas vezes estão lá sozinhas, sem família ou amigos para os visitar. Quando saía de lá, não dava para explicar como me sentia! Ouvir as histórias incríveis que tinham para nos contar vezes e vezes sem conta, receber um sorriso apenas daqueles que não se conseguiam expressar de outra forma e ficar com o sentimento de realização quando um deles gostava de nós ao ponto de nos mostrar os seus quartos e os seus bens mais valiosos, que muitas vezes eram fotografias das famílias ou desenhos dos netos.
Já no 10º ano, lembro-me perfeitamente da primeira noite em que fiz a distribuição e não vou mentir, não foi nada fácil! Pela primeira vez, tive contacto com aquelas pessoas que ajudei á distância durante os 5 anos anteriores, mas nada nos prepara para a realidade que encontramos… Pessoas novas, idosas, doentes, famílias inteiras a viver na rua e algumas delas sem o mínimo de condições. Infelizmente, estamos cada vez mais habituados a ver pessoas nas ruas, mas quando perdemos um bocado de tempo para falar com elas e ouvir as suas histórias aí entendemos que podemos perder tudo de um momento para o outro e a nossa perspetiva sobre a realidade altera-se. No entanto, as alegrias que se vivem neste projeto são muitas! A festa que muitos fazem quando nos veem, não só pelo que trazemos, mas também porque sabem que vem um grupo de pessoas dispostas a conversar com eles sem desviar a cara e sem pressa de se ir embora.
No 11º e 12º ano, integrei o projeto RAIZ que consiste em ajudar crianças do bairro social de Ramalde dando explicações e ajudando na realização dos trabalhos de casa. Depois de tudo feito, tínhamos ainda tempo para muita brincadeira, correria, dança, jogos de futebol e até organizávamos festas temáticas como de Carnaval, Halloween, Natal, …
Assim que cheguei ao 12º ano estava ansiosa por finalmente estar quase a realizar o meu sonho quando, devido a situações políticas em Moçambique, o projeto foi cancelado. Fiquei desolada, mas nos anos seguintes, sempre que possível, continuava a ajudar na distribuição dos kits a quem mais precisava, mas nunca desistindo do meu sonho. Já no meu segundo ano da faculdade e já em Lisboa, recebi uma chamada de um professor do Rosário a saber se gostava de integrar o grupo de voluntários que iria fazer o projeto de voluntariado, mas agora em Timor-Leste que não demorei muito a aceitar.
Esta experiência foi sem dúvida a mais marcante e a mais desafiante até ao momento. Pensava que, devido à experiência que já tinha, esta aventura seria mais fácil, mas mais uma vez estava enganada. Nada me preparou para as condições ou falta delas que encontramos lá. O essencial desta experiência, na minha opinião, foi a entreajuda que havia entre os voluntários, uma vez que nos encontrávamos bastante longe de casa e porque era uma aventura nova para todos.
Ficamos na cidade de Zumalai, a 150 km da capital Díli, durante cerca de um mês. Neste período, convivíamos diariamente com crianças desde o 1º até 9º ano. Este país tem duas línguas oficiais, o tétum e o português. Hoje em dia, os mais novos sabem muito pouco da nossa língua o que tornou a nossa missão um desafio maior e foi também onde a nossa ajuda incidiu mais.
Durante as 4 semanas que passamos em Timor, tentamos de manhã ajudar os mais novos no desenvolvimento da nossa língua materna através de aulas de português, música e momentos lúdicos e à tarde os alunos do 7º ao 9 apenas com aulas de português. Fiquei na parte mais lúdica com os mais novos onde a nossa intenção era que, através de jogos (jogo das cadeiras ou o lencinho vai na mão, por exemplo) e danças que implicassem a compreensão de palavras como esquerda, direita, cabeça, joelhos, olhos, entre outros, em que os miúdos pudessem aprender brincando.
Na parte da tarde, dava aulas em conjunto com outro voluntário a uma turma de 8º ano onde tentávamos que o nível básico de português que tinham fosse desenvolvido através de ditados, cópias e diálogo sobre o dia-a-dia ou até mesmo sobre o que ambicionavam ser no futuro. Apesar destas atividades todas, tínhamos ainda tempo para conhecermos as crianças e a comunidade fora das aulas bem como localidades perto de Zumalai.
Já em Lisboa no meu 3º e 4º ano da faculdade, participei na Missão País, em Oliveira do Bairro e Oliveira de Frades, respetivamente. Este projeto consiste em alunos universitários católicos que, durante uma semana entre o 1º e o 2º semestres, se dedicam, a ajudar uma comunidade mais necessitada. Ajudamos nos lares acompanhando não só os idosos, mas também os funcionários, nas escolas ou fazendo porta-a-porta com o objetivo de ajudar no que for preciso, levando ânimo extra a quem vive mais sozinho e isolado.
Na minha perspetiva, acho que vale a pena fazer voluntariado e que é uma experiência bastante enriquecedora, independentemente do tipo de voluntariado que se faça. É muito importante que a decisão de alguém se tornar voluntário seja fundada no intuito de ajudar o próximo e não apenas porque parece bem ou porque toda a gente faz.
Em resumo, posso apenas dizer que faço o que faço pelo gosto de ajudar quem mais precisa e da maneira que precisa. Desde ajudar a fazer os trabalhos de casa até ter uma simples conversa porque não há mais ninguém disposto a fazê-lo. Espero que mais oportunidades e aventuras me apareçam.”
Inês Nunes
21 anos
“A minha primeira grande experiência de voluntariado foi no Brasil num projeto chamado Giramundo numa fundação chamada Seara de Luz. Senti que era altura de dedicar o meu verão a algo mais que eu próprio e ter uma experiência impactante que realmente me trouxesse algo, não quis ter o verão “do costume”.
Então fiz a minha experiência através da AIESEC, que é uma organização internacional que possibilita experiências internacionais de voluntariado e estágios. É destinada a jovens entre os 18 e os 30 anos.
Uma vez que já conhecia os processos internos da organização, senti bastante confiança. Para além disso, o facto de ter acolhido voluntários estrangeiros em minha casa, deu-me ainda mais insight em relação ao funcionamento das experiências.
O meu projeto consistia em educar crianças muito desfavorecidas sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável (SDGs) da ONU. Naturalmente, crianças, ainda por cima com baixos níveis culturais, não compreendem exatamente estas questões. Portanto, foquei-me em ensinar a base destes objetivos e como elas poderiam construir o seu futuro para contribuírem para a sociedade e viverem vidas mais felizes. Foquei-me muito na questão da educação e dos estudos, em tópicos ambientais e em igualdade de género, algo muito pouco evidente naquela comunidade. Sempre, claro, adequando as atividades e tópicos às crianças.
Confesso que os outros voluntários foram uma grande mais-valia da experiência. Na minha fundação, trabalhando no mesmo projeto, estava uma rapariga mexicana com a qual acabei por formar uma equipa de voluntários estrangeiros. Resultou muito bem porque pudemos aliar as nossas diferentes forças para o bem das crianças. Para além disso, dei-me muito bem com outros voluntários, tanto os brasileiros da AIESEC local como outros estrangeiros que trabalhavam em projetos semelhantes ao meu. Conheci muitas pessoas diferentes e de várias nacionalidades!
Voluntariado é realmente um conforto no coração. Dar um pouco de nós em prol de quem mais precisa é uma recompensa por si só. Para mim, simples sorrisos ou abraços fazem todo o esforço e todas as dificuldades valer a pena!
O momento mais marcante para mim foi quando uma rapariga, dos seus 15 anos e de condições sociais bastante precárias, me contou que tinha convencido os pais a fazer um intercâmbio no final do seu ensino secundário. Em condições normais, para muitos de nós, isto não seria algo exatamente marcante. No entanto, saber que esta rapariga conseguiu convencer os pais a fazer um investimento impensável para a condição económica deles, tudo para melhorar o seu futuro, conhecer outros horizontes e abrir novas oportunidades, foi muito especial para mim. Ainda por cima, sabendo que o fez apenas porque me ouviu a falar à turma dela sobre como eles podem lutar por um futuro melhor!
O maior desafio foi superar a diferença das condições das crianças. As suas condições de vida eram realmente bastante precárias e isso é algo que demora um pouco a digerir. Para além disso, no meu caso, a autonomia e o facto de estar num país estrangeiro onde tudo é diferente (embora a língua comum facilitasse) também me desafiaram. No bom sentido, claro!
Aprendi que realmente nós podemos ter um impacto muito grande nas vidas dos outros e cabe-nos a nós decidir o tamanho desse impacto e se ele vai ser positivo ou negativo. E aprendi também que sim, é possível ser-se muito feliz com muito pouco!
A mensagem que gostaria de deixar é que realmente o voluntariado não pode esperar. Muitas pessoas sentem a vontade de o fazer mas deixam outras coisas pôr-se à frente, tanto porque acham que não têm tempo ou porque têm medo do desafio. O meu conselho é mesmo que se lancem e que não se deixem levar pela rotina porque ajudar os outros vale sempre a pena!
Não falando na questão curricular, que é sempre uma mais-valia, acho que fazer voluntariado vale muito a pena porque estamos a fazer bem a nós mesmos enquanto o fazemos também aos outros. E nunca se sabe se, um dia, seremos nós a precisar!”
Pedro Machado